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Governança
Governança
da autoria de: Maria Helena Guimarães (Investigadora do MED-Universidade de Évora)
Não é mesmo que governação. À medida que enfrentamos desafios cada vez mais complexos e que nos afetam a todos, a governação por si só não é suficiente. Esta é uma das razões pelas quais a governança é um tema importante. O tema implica uma reflexão de como é que hoje nos organizamos em torno de um determinado problema. Que mudanças são necessárias para que seja possível encontrar soluções e colocá-las em práticas. A governança é um processo de reorganização de pessoas e instituições que questionam a atual organização, forma de funcionamento, e de tomada de decisões. Governança pressupõem que para além das instituição e estruturas governativas estabelecidas, há necessidade de dinamizar novos formatos de trabalho coletivo, flexibilizar procedimentos de atuação e aumentar a capacidade de experimentar, inovar e mudar. O trabalho coletivo em governança é estrutural. Como tal, pensar e atuar em governança é um processo coletivo.
Exemplos de como podemos promover processos coletivos:
Uma Plataforma de Diálogo – As Tertúlias do Montado
As Tertúlias do Montado são uma plataforma de diálogo entre todos os interessados no Montado como sistema agro-silvo-pastoril, na região do Alentejo. A iniciativa começou há em 2016 e contínua ativa. Com estas Tertúlias pretende-se a interligação entre o conhecimento científico e empírico. Com o conhecimento científico procura-se a compreensão organizada e meticulosa da realidade e a generalização dos resultados. Já o conhecimento empírico é muito rico e diverso e, embora não possa ser generalizado, o conhecimento empírico pode e deve ser partilhado. Pois, enquanto o conhecimento científico é validado pela comunidade científica e publicado, o conhecimento empírico, se não for partilhado, pode desaparecer.
Nas Tertúlias do Montado procura-se estimular o espírito crítico através da socialização entre investigadores, proprietários, gestores, funcionários de diversas instituições públicas e qualquer pessoa com ligação ao Montado. Nesta socialização há algo que surge para além do conhecimento: compreensão e confiança. E esta confiança é fundamental para um olhar mais crítico, especialmente num tempo, como aquele em que vivemos, em que a informação e a desinformação convivem à distância de um clique.
Nas Tertúlias promove-se a co-construção, ou seja, olhar para o mundo em conjunto, partilhar as interpretações e ideias e, em conjunto, criar um sentido. Não implica nem exige consenso, podemos concordar que discordamos sobre o sentido final, mas partilhamos o caminho que fazemos até aí. A co-construção, no entanto, não é o propósito final. As Tertúlias do Montado ambicionam mais. Ambicionam promover decisões fundamentadas e ações que possam travar o atual declínio do Montado como sistema agro-silvo-pastoril. E como é que se faz isso? Desenhando as Tertúlias para que todos os participantes levem consigo novas ideias, motivação e algo que os faça pensar e repensar. Explorar o capital científico e a vivência com o Montado como um interesse que não é privado, mas coletivo.
